ENTREVISTAS



Entrevista com Rogéria Freire de Figueiredo do MEC a comunicação da CUFA/Guaiba.




" Eu acho que a escola tem que ser alegre porque nós somos seres alegres. O brasileiro é alegre, o brasileiro gosta de dança de norte a sul deste país, gosta de festa, gosta de teatro, gosta de representar, gosta de música, nós somos seres musicais e a escola perdeu isso".










Qual a principal diferença que você observou em sua visita a áfrica na questão da educação entre Guiné Bissau e o Brasil?

Olha. O país de Guiné Bissau primeiro que infelizmente sofreu vários golpes, a gente também, mas eles com um espaço de tempo menor, agora mesmo, ainda neste mês de abril eles sofreram um último golpe que foi justamente o reposicionamento dos militares, os militares tomaram o governo e eles estão ainda num impedimento, mas vejo que a gente tem uma semelhança. Primeiro fomos colonizados pelos portugueses, então não só pela questão da língua porque lá eles falam vários dialetos mais do a gente aqui, a gente também tem várias línguas que a gente acabou como eu bem falei antes tornando invisíveis estas línguas e estes povos, nós somos mestiços então esta herança africana esta herança indígena a gente precisa recuperar, esta herança portuguesa também.
Lá o que eu vejo, eles estão ainda com uma deficiência. O índice de analfabetismo ainda é muito grande, então eles conseguem atender somente 42% da demanda da educação. É muito precária a situação lá, eu acho que a gente já caminhou muito mais eu não tenho dúvida disso em termos da educação, em termos da institucionalidade do país, é um país muito pouco institucionalizado com raízes democráticas muito frágeis, então eu acho que aqui a gente também já conseguiu avançar com relação a isso, hoje somos um país reconhecido mundialmente e não é em vão. Eu acho que esta base republicana que a gente tem esta forma de dialogar, esta construção, como nós construímos e a gente está alinhavando principalmente nesta última década estas políticas públicas ligadas à educação, ligadas a saúde e esta herança que a gente tem ainda da injustiça social nós estamos conseguindo fazer algumas consertações neste sentido.



O que você quer dizer quando fala que: "A escola perdeu o vínculo comunitário"?

Eu acho que não só a escola, mas nós de um modo geral a gente perdeu essas relações comunitárias. Hoje a gente vive num mundo e, principalmente da década de 80 pra cá  nós vivemos em que priorizava muito mais o individual do que o coletivo então esses vínculos comunitários a gente foi perdendo, a gente já não brinca mais na rua, a rua já não era mais do cidadão a rua era ocupada por outros que não à família, a criança o adolescente, então neste sentido a gente foi perdendo os vínculos e uma das funções sociais da escola é resgatar esse vínculo escola e comunidade. Essa comunidade tem uma história e este equipamento público chamado escola é responsável pelo resgate deste vínculo.

André Erich.






Entrevista com Manoel Soares ao jornal O Alto Uruguai - 25/04/2012


 


 


25/04/2012
Entrevista com Manoel Soares
A Cufa não é uma instituição médica, a Cufa é uma instituição que trabalha com oportunidades sociais.

“O universo da droga tem três eixos básicos, tratamento quem tem que fazer é médico, a Cufa não é uma instituição médica, a Cufa é uma instituição que trabalha com oportunidades sociais; a repressão tem que ser feita pela polícia, a gente também não tem autoridade de ir lá e ficar entregando bandido, dizer onde é que vende e onde compra, não é o nosso trabalho, a gente não vive disso, nosso trabalho é de prevenir, nosso trabalho não é de tratar, nem de prender, nosso trabalho é de alertar, alertar as crianças, alertar os jovens, e criar para eles estratégias para que não se metam nisso”, destacou Manoel Soares.




Qual a sua experiência pessoal com o crack? Como surgiu a iniciativa de trabalhar com isso?
Olha, o que algumas pessoas chamam de traficante, eu chamo de vizinho. O que algumas pessoas chamam de viciado, eu chamo de vizinho. O que algumas pessoas chamam de assassino, eu chamo de vizinho. Então é daí que vem isso. A minha relação com o universo das drogas não é uma relação de conivência, é uma relação de convivência. Eu convivo com as drogas desde que eu me entendo por gente. A droga está mais presente na minha vida do que qualquer outra substância. Então, eu não tinha como falar de outras coisas, agora, eu nunca usei, eu nunca experimentei nada, eu nunca tive uma necessidade de saber do que era. E não era porque eu sou um cara bonzinho não, a mesma droga que eu via deixar o playboy muito loco e ele ia lá querer correr de carro, era a droga que eu via estourar a cabeça do meu antigo colega de sala de aula. Então, a minha relação com ela é uma relação muito próxima.
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E como você avalia a Cufa em Frederico Westphalen?
Eu tenho a Cufa dessa cidade como uma das Cufas mais articuladas do Brasil. A Cufa de FW é um exemplo no seu universo de como transitar sem criar desconfortos, fazendo comprometimentos, fazendo com que as pessoas se apaixonem pela ideia. Eu tenho a maior admiração pelo que vocês conseguem fazer aqui em Frederico Westphalen, vocês Cufa, vocês poder público, vocês empresários, vocês gestores educacionais, eu to bem contente com o que eu vi aqui.
E por que você escolheu o jornalismo para sua profissão? Conte como foi a experiência de participar do Profissão Repórter?
Na verdade eu não escolhi o jornalismo. Eu hoje vivo a condição de jornalista, mas eu posso fazer várias outras coisas. O Profissão Repórter acabou sendo um dos únicos programas das organizações Globo que eu tive afinidade, que eu olhei, gostei, me aproximei e acabei trabalhando junto, porque eu vou trabalhar onde? No Faustão? Não é muito o que eu curto fazer. O Fantástico é uma revista que não é muito a minha cara. O Jornal Nacional é uma coisa mais news, mais fechada, mais dura. Então, o Profissão Repórter é o único que tem um pouco mais de desenvoltura e eu realmente sou apaixonado pelo que eu vejo ali, gosto muito do Caco. Então, para mim é um eterno aprendizado, mas eu aprendo também com um morador de rua, aprendo com um gari, com um policial, com um juiz. Então o Profissão Repórter me permite fazer esse caminho de ida e volta sem o glamour que as vezes atrapalha.
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Ir à África para cobrir a Copa do Mundo e registrar no blog seus sentimentos sobre isso deve ter sido uma experiência fantástica. O que mais o marcou, o lado profissional ou o pessoal?
Olha, eu não sei muito diferenciar o lado pessoal do profissional, até porque as coisas elas se confundem muito, mas eu digo a você que a África, ela me ensinou que as relações sociais e raciais não podem ser maiores que as relações humanas. Independente da cor da pele, nós somos todos iguais e precisamos ser todos iguais e pregar essa igualdade. Como já diz Boaventura, quando a igualdade tirar de mim o direito de ter minhas características, eu quero poder ser diferente, mas quando o fato de ser diferente não me permitir ter acesso as coisas, eu quero poder ser igual. Então, a África me ensinou isso, você pode conviver com pessoas diferentes, nós temos uma central única das favelas em uma cidade chamada Frederico Westphalen, você fala isso, por exemplo, no Rio de Janeiro, e vão achar loucura, não, mas nós temos e ela funciona muito bem. Isso é parte do que a África me ensinou. Ensinou-me que nós somos iguais. Iguais em tudo, inclusive no fato de sermos diferentes.
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Foto: Daiane Binello